quarta-feira, 17 de maio de 2017

Time gigante, mentalidade pequena

Imagem retirada do site Gazeta Esportiva
  

  Vergonhosa. Essa é a palavra que melhor define a eliminação do Flamengo. O time chegou no último jogo precisando apenas não perder, e mesmo assim, só seria eliminado se o Atlético Paranaense ganhasse. 

  Além do fato de chegar em melhor situação na última rodada, o time rubro negro mostrou ao longo da fase de grupos ser o melhor com sobras. Até pelo nível de investimento, o favoritismo ficou bem evidente, mesmo o grupo sendo realmente o mais complicado da Libertadores.

  É importante ressaltar que essa não foi a primeira derrota do time na competição, o time viveu altos e baixos. No primeiro jogo, 4x0 no San Lorenzo com facilidade. No segundo, se retrancou contra a Universidad Católica e perdeu por 1x0 quase não criando. No terceiro, vitória por 2x1 contra o Atlético, em atuação razoável. Depois disso, derrota para o Furacão por 2x1 em atuação que começou ruim e só ficou boa quando o time teve que buscar o resultado. Jogando de novo no Maraca, mais uma grande vitória, 3x1 no Universidad Católica. E hoje, derrota por 2x1 para os argentinos.

  Três derrotas fora de casa. O peso da torcida não é o único motivo para isso, e diria que nem mesmo o principal. O problema foi a atitude do time. Com um time superior, não era necessário entrar de maneira tão defensiva nesses jogos, mas o fez. A derrota no Chile já deveria ter servido de aprendizado, porém o erro foi repetido.

  É verdade que, diferentemente dos outros dois jogos fora de casa, o Fla não entrou com três volantes, mas a atitude defensiva foi a mesma. O gol aos 15 minutos, em chute de fora da área de Rodinei, contribuiu para esse comportamento. No primeiro tempo, deu a bola, o San Lorenzo não criou e o Fla só teve um ou outro contra-ataque.

  No segundo tempo, a mentalidade de time minúsculo foi maior ainda, principalmente com a entrada de Rômulo no lugar de Berrío, aos 14. O San Lorenzo não criava, mas a partir do momento que toda bola perdida era devolvida a eles, as chances de gol aumentavam. Os argentinos passaram a só jogar bola na área, o que mostra uma falta de criatividade, porém ao deixar isso acontecer mil vezes, é lógico que o gol sairia.

  Aos 28, Matheus Sávio entrou no lugar de Gabriel. A substituição até fazia sentido, já que o titular não criava nada, mas não dá para entender a ausência de Mancuello no banco e a presença de um garoto ainda inexperiente. E o próprio perdeu a bola em seguida, originando o primeiro do San Lorenzo.

  Depois disso, 15 minutos de bola na área do time argentino. Aos 43, o zagueiro Juan entrou no lugar de Éverton inclusive. A imagem mais clara de que o Fla abdicou de jogar foi que quando Alex Muralha foi bater o tiro de meta, os 10 jogadores de linha ficaram no campo de defesa e deixaram ele chutar na direção do campo adversário. Aos 47, a bola finalmente entrou e castigou a nação rubro negra.

  O grande ponto é que Zé Ricardo já deveria ter aprendido durante a competição é que não existe apenas a possibilidade de se retrancar jogando fora de casa. No jogo do Chile, o Fla poderia facilmente ter ganhado se partisse para cima. Hoje poderia ter tocado a bola, poderia ter mandado o Guerrero segurar na bandeirinha de escanteio, mas não apenas esperar e torcer para a bola não entrar.

  A vitória do Atlético Paranaense na última rodada foi surpreendente. A lesão de Diego custou caro, ele poderia ter sido o jogador para segurar a bola nesse jogo. Mas mesmo com todos esses fatores a eliminação é ridícula.

  Zé Ricardo deve receber um baita esporro e entender que o gigante Flamengo não pode ter essa mentalidade de time pequeno. Ainda assim, a demissão não deve acontecer. Primeiro pelo mérito de ter levado um time não tão bom ano passado para a Libertadores e ainda brigando por título. Segundo porque nenhum técnico no mercado pode fazer um trabalho melhor no Brasileirão e Copa do Brasil do que quem já conhece tão bem o elenco e fez tantos bons jogos.

  Zé ainda está no começo da carreira, e essa eliminação vai ser de grande aprendizado. Jogando dessa forma fora de casa, ela aconteceria mais cedo ou mais tarde. Para a nação rubro negra é triste, muito dolorida, mas pode ser de aprendizado para o comandante. Brasileirão e Copa do Brasil ainda estão aí, o elenco ainda é um dos melhores do país e, corrigindo os erros, tem tudo para conquistar um título importante esse ano.

  Para terminar, gostaria de ressaltar mais uma coisa. Essa ideia dos brasileiros de que Libertadores só se ganha na raça acaba atrapalhando os times. É lógico que é uma competição que exige garra, raça, vontade, mas também técnica. O Flamengo é mais time que San Lorenzo e Católica. Se tivesse acreditado nisso, ganharia ou pelo menos empataria com eles mesmo fora de casa. A equipe carioca fez 21 faltas, chegou duro em todas as divididas, enquanto o argentino San Lorenzo fez 6, mas com a bola nos pés esqueceu o futebol em casa, literalmente.



Pedro Werneck Brandão

  

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