segunda-feira, 26 de junho de 2017

As diferenças entre Flamengo e Corinthians

Imagens retiradas dos sites Torcedores.com e Globoesporte
  
  No começo do ano, ninguém diria que o time do Corinthians era melhor que o do Flamengo. Todos apostariam na equipe carioca muito mais favorita do que a paulista. Ainda hoje, se perguntar apenas qual elenco é melhor, sem levar em conta os resultados, é impossível não dizer que o rubro-negro é superior. 

  Dentro de campo, isso não está acontecendo. O Corinthians lidera o campeonato, com incríveis 87% de aproveitamento. O Fla também vai bem, está em terceiro (cai para quarto se o Botafogo derrotar o Avaí ainda hoje). Mesmo as posições sendo próximas, o Timão está 9 pontos à frente do Urubu.

  Só passaram-se dez rodadas, é verdade, mas meu principal objetivo é analisar como esses dois times são o oposto um do outro. O time paulista tem um elenco com poucas estrelas, porém taticamente perfeito. O Fla é o contrário. Por que isso?

  Começando pelo trabalho corintiano, o time foi apontado no começo do ano como a quarta força de São Paulo. Algumas das contratações foram questionadas, principalmente se comparadas com as de equipes como o Palmeiras e o próprio Flamengo. Mesmo com todas as limitações, montou um elenco equilibrado, pouco badalado, mas com ótimas opções. 

  A escolha para o comando técnico também foi muito questionada. Fábio Carille, auxiliar de Mano Menezes e Tite nos últimos anos, já tinha tido uma chance ano passado, mas foi rapidamente demitido. Esse ano, recebeu mais uma chance e está aproveitando completamente. 

  Eu mesmo critiquei um pouco essa escolha de técnico, mas ela foi totalmente adequada e condizente com os trabalhos recentes. Na Europa, é cultura os clubes terem uma filosofia de trabalho, por exemplo, o Barcelona desde as categorias de base implementa um futebol de posse de bola e ofensivo. No Brasil, isso é uma raridade e dificulta muito os clubes. O Corinthians vem sendo uma exceção, porém quase jogou isso água a baixo ano passado ao contratar Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira. 

  De 2008 a 2010, Mano Menezes, auxiliado pelo Fábio Carille, fez um bom trabalho no Corinthians. Na sequência, Tite, que tem características parecidas (e muito mais qualidade, é verdade), assumiu o comando e conquistou a Libertadores e o Mundial. O treinador saiu em 2013, mas em 2014 voltou e ainda conquistou um Brasileirão antes de deixar o clube para assumir a seleção brasileira. 

  O sucesso desses treinadores tem muito a ver com o estilo de jogo. Um futebol muito tático, o time bem fechado na hora de marcar e saindo no contra-ataque com trocas de passes intensas. Mano já fazia isso, e Tite elevou esse futebol a outro nível. Ninguém melhor que Carille, que trabalhou com os dois, para assumir o Timão.

  O Corinthians começa a temporada lembrando muito o time campeão com Tite. Mérito também da diretoria por já ter contratado jogadores adequados para esse esquema. O esquema é o mesmo e a função executada pelo jogador de cada posição também. Cássio voltou a se destacar no gol, Fágner convocado para seleção na lateral direita, Arana líder de assistências na lateral esquerda, Pablo o grande destaque dessa defesa, ao lado de Balbuena, que foi de questionado para seguro.  Gabriel um leão no meio-campo, ao lado de Maycon, perfeito na transição defesa-ataque e Rodriguinho, grande destaque do time. Jádson, não tão decisivo quanto em 2015, mas ainda assim dando muita qualidade, Romero, jogador questionado, mas taticamente perfeito, e Jô fazendo uma temporada espetacular no comando de ataque.

  O Flamengo tem um elenco muito superior. Só para frente tem jogadores como Éverton, Diego, Guerrero, Berrío, Vinicius Jr., Ederson e Conca, além dos recém-chegados Geuvânio e Éverton Ribeiro. Rhodolfo também chegou para reforçar a zaga. As opções são muitas, e o time tem tudo para crescer.

  A questão maior aqui é que, mesmo com tanta qualidade, o Flamengo não tem a identidade de time do Corinthians. O time paulista é coletivo, visto realmente como um time. Já o Fla, são 11 jogadores. Gosto do estilo de jogo praticado pelo Zé, posse de bola, jogadores adiantados, e por isso defendo muito sua permanência, mas ele precisa urgentemente mudar algumas coisas.

  Hoje o time do Fla depende de momentos decisivos dos principais jogadores, que agora não são poucos, é verdade. Por isso, mesmo não jogando o futebol ideal, ainda pode brigar por títulos. Agora, se essa equipe se ajeitar e o Zé conseguir juntar as peças da maneira certa, pode virar uma máquina.

  Como fazer isso? Lendo uma biografia do Guardiola, estava vendo que ele bate muito na tecla dos jogadores terem uma ideia de time, o que significa progredir e regredir igualmente, algo que o Corinthians de Carille faz. Já o Flamengo faz o oposto.

  As escolhas do Zé para começar jogando não são ruins, muitas vezes até concordo, outras não, mas é mais questão de opinião. O problema é a organização em campo. Na hora de sair jogando, o treinador pratica algo comum em vários times europeus, coloca um volante (normalmente Márcio Araújo) entre os zagueiros e adianta os laterais. O problema é 1) ele adianta muito os laterais, que viram pontas, e simplesmente não ajudam na saída de bola. 2) Normalmente, quando isso é feito lá fora, dois meias ficam a frente desse trio de zagueiros, mas Diego joga muito adiantado e Arão, ou fica atrás, mas erra todos os passes, ou então se manda pra frente como um segundo atacante. Resultado? Um buraco no meio-campo, fazendo Márcio Araújo errar passes bobos, Vaz tentar dar chutão o tempo todo e Réver sair driblando feito um maluco.

  Se ele gosta dessa ideia de ter três zagueiros quando tem a posse de bola, tudo bem, mas tem que mudar a forma de executá-la. Trocar o Márcio Araújo pelo Rômulo, porque, apesar de eu achar que MA tem muitos méritos, ele não sabe fazer essa função. Esses zagueiros devem ter gente perto para auxiliar na armação, ou seja, fazer uma linha de quatro com os laterais, Diego e Arão (que eu ainda trocaria por Cuellar ou até o garoto Ronaldo). Um pouco a frente, estariam os dois pontas e Guerrero. Com isso, todos os setores poderiam avançar ao mesmo tempo e ninguém ficaria sozinho tendo que se virar, algo muito constante nos jogos do rubro-negro. Na falta de volantes de qualidade, nos jogos mais fáceis dentro de casa, ele também pode ousar e trocar Arão por Conca, botando o argentino ao lado de Diego.

  Tudo pode acontecer até o final do campeonato. Talvez o Corinthians não termine tão bem, talvez o Flamengo seja campeão. Mas, por enquanto, o Timão deixa de lição que pode valer mais um elenco pouco abalado, mas com uma cara bem definida do que um estrelado, mas mal organizado. O Fla vem de duas vitórias, uma muito boa contra a Chape inclusive, porém pode render mais, só que o próprio Zé Ricardo precisa acreditar nisso.


Pedro Werneck Brandão

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